Mulheres radicais: grupo cria categoria feminina no Acreano de Motocross




Janequeli Silva se reuniu com amigas e criou a categoria feminina nas competições estaduais

No Acre, um grupo de amigas radicais, viciadas em aventura e muita adrenalina, decidiu competir no motocross. Sete amigas enfrentaram a resistência dos esposos e namorados, pilotos profissionais, para correr e criar a categoria feminina nas provas estaduais e, posteriormente, convenceram outras mulheres a participar. Desde 2016, elas se destacam nas pistas e conquistam mais adeptas. Diante do sucesso, nesta temporada farão parte de todas as etapas do Campeonato Acreano da modalidade.

A jornalista Janequeli Silva conta que as atletas não tiveram problemas para entender as regras, pois já acompanhavam de perto as corridas dos companheiros. No começo, usavam as motos e equipamentos dos companheiros, mas agora já possuem o próprio “acervo”. Segundo ela, a paixão pelo esporte sempre existiu, só estava adormecida.

“Estávamos sempre acompanhando. À beira da pista torcíamos, passávamos orientações sobre o tempo da corrida, além de sofrer muito quando se machucavam. Em meio a essas idas, certa vez eu e mais seis meninas pedimos para correr, só para brincar mesmo. A princípio recebemos vários nãos. Diziam que iríamos nos machucar, danificar a moto, que a pista estava ruim, que não conseguiríamos.” 

De acordo com a jornalista, a modalidade enfrenta várias dificuldades no estado. Sem federação própria, os eventos são realizados com o dinheiro arrecadado com as inscrições e com esforço dos pilotos, que muitas vezes precisam patrocinar as corridas com recursos próprios para manter vivo o motocross na região. Ela diz que a categoria ainda é incomum no Brasil, principalmente por conta do preconceito, embora haja muitas mulheres adeptas em todas as regiões do país,.

“É preciso antes de tudo quebrar este preconceito de que “motocross é esporte de homem”. Não é. É um esporte da família, onde todos podem participar. Temos até a categoria kids, onde a nossa representante feminina, Emely Zanella, tem apenas oito aninhos. Incentivada pelo pai, pratica desde os seis, e assim como nós, salta morros e faz curvas acentuadas também. É uma gracinha, a galera adora vê-la correr.” – explica.

A pilota Thalita Cristina Santos também enfrentou alguns nãos, mas há dois anos conseguiu convencer o namorado, que também é piloto profissional, a treiná-la. Uma das “fundadoras” da categoria, para ela, o motocross mistura paixão, medo e coragem. Com a formação da categoria,  já participou de quatro corridas no estado e pretende seguir os passos do parceiro , que já participou do Brasileiro da modalidade e é campeão acreano e rondoniense.

“Quando começamos a namorar, já me despertou interesse, só que ele não queria muito deixar, por medo. Depois de anos que consegui convencê-lo. Ele comprou uma moto para mim e começou a me ensinar. É viciante. Dá medo, mas ao mesmo tempo uma vontade de acelerar mais, muito bom. Na largada dá um nervoso muito grande, mas depois o medo vai embora e vira vontade de ganhar.” – destaca.

LEIA MAIS:  Mundial de Motocross 2017 desembarca na Itália neste fim de semana

Janequeli não deixa a vaidade de lado. Os estridentes roncos dos motores não a intimidam, assim como o preconceito. Ela afirma que até se diverte com os comentários “desconfiados”. Conhecidas como “Divas do Brap”, as pilotas arrasam no visual e na técnica na hora de competir.

“Defendemos e convidamos outras mulheres radicais a também praticarem. Sofremos preconceito, mas não damos importância. Temos apoio e o respeito da nossa família e isso é o que importa. Entramos na pista com elegância e charme. Uso maquiagem antes de encarar os morros e as curvas. Algumas pilotas gostam de exibir o cabelão na hora da corrida. Cabelos ao vento dão sorte (risos). Não temos técnica. O que sabemos, aprendemos com treinos e mais treinos.” – conclui.


FONTE: JF