Enganou-se quem imaginou que apenas as dunas de até 250 metros de altura seriam as estrelas
Em uma corrida de 7,8 mil km com 65% do trajeto realizado no deserto, incluindo o maior deles, a noção geral era de que o maior adversário dos 342 veículos inscritos seria cruzar verdadeiros mares de areia e sua exigente sequência de dunas, algumas chegando aos 250 metros de altura. Mas, pelo menos nos primeiros quatro dos doze dias de prova, quem realmente tirou as equipes do sério – e em alguns casos da corrida – foram as intermináveis e perigosas pedras espalhadas por toda a região entre Jeddah e Al-‘Ula, na Arábia Saudita, onde a edição número 42 do Rally Dakar vem sendo realizada.
“Dá para estimar que já tivemos pelo menos uns 500 a 600 pneus furados durante a corrida nestes quatro dias, somente entre UTVs e carros. Se não for isso, é um número bem próximo, por que a maior parte do grid não passa um dia sem furar pelo menos um pneu”, contabiliza o piloto brasileiro Reinaldo Varela que, ao lado do navegador Gustavo Gugelmin, foi campeão do Dakar na categoria UTV em 2018 e, com o terceiro lugar no ano passado, forma a dupla com melhor retrospecto na prova nos últimos dois anos.
Rodas arrancadas – A dupla brasileira é a única representante do país na prova, ao lado do piloto de moto Lincoln Berrocal.
“As pedras não apenas furam os pneus, como também causam acidentes. Tivemos alguns bem violentos, com o veículo batendo em alguma pedra grande no meio da trilha, arrancando até as rodas e capotando. As pedras de tamanhos variados são um elemento bastante traiçoeiro, que aumenta demais o risco, especialmente para quem vem atrás de outro veículo e mergulha na nuvem de poeira que essa condição levanta no deserto”, observa Gustavo Gugelmin, que defende com Varela a equipe Monster Energy/Can-Am.
A dupla foi tricampeã mundial de Rally Cross-Country ao vencer a etapa disputa no Marrocos em outubro passado.
Os vários acidentes – muitos deles causados justamente pela imprevisibilidade do piso – já tiraram da corrida 22 competidores, um índice bastante alto em termos de rallies internacionais.
“Mas o Dakar é o Dakar. Há sempre muitos abandonos, especialmente por que é sempre difícil calcular o nível de desgaste dos tripulantes e do equipamento em cada edição, já que o roteiro é feito com algum “nível de crueldade”, se podemos falar assim, e só é conhecido previamente pelos organizadores”, diz Gabriel Varela, filho de Reinaldo que na Arábia Saudita é responsável pela logística da dupla brasileira.
“Por exemplo, o que está acontecendo aqui é que esse piso pedregoso demais está literalmente lixando os pneus e aumentando demais o consumo da borracha. Antes de furar o pneu, o carro fica mais instável. Por isso quase todas as equipes melhor estruturadas estão trocando os pneus todos os dias. Será um Dakar bastante caro neste quesito”, completa o coordenador da equipe Monster Energy/Can-Am.
Defesa – UTVs, carros e quadriciclos tendem a trocar todos os pneus a cada dia, por causa do consumo. O mesmo acontece com as motos, que contam com uma defesa extra contra os furos:
“As motos usam um mousse no interior dos pneus que impede a deflação. Dessa forma os pilotos conseguem se livrar do principal problema que tem afligido os competidores das outras categorias”, diz Gabriel Varela.
As pedras influenciaram a competição já no primeiro dia, domingo passado, quando as estrelas da categoria carros Nasser Al-Attiyah (Qatar) e Carlos Sainz (Espanha) e o atual campeão dos UTVs “Chaleco” López (Chile) tiveram pneus furados no trecho final, obrigando todos a uma demorada substituição com a prova em andamento. O ex-piloto de F-1, Fernando Alonso (Espanha), teve três pneus furados somente nesta quarta-feira (08/01). Alonso, inclusive, bateu forte contra uma pedra grande do trajeto da terça-feira, fato que arrancou uma roda de seu Toyota – e deu ao bicampeão da F-1 e seu navegador Marc Comas duas horas e meia de trabalho como mecânicos para consertar a avaria.
“Incrível como a quantidade de pedras surpreendeu a todos. Mas não deveria. Pelo simples fato de a topografia da região ser assim. Por exemplo, ladeando a área de 672 km de hoje (quarta-feira) há uma centena de templos cavados na rocha por uma civilização milenar – isso diz muita coisa sobre o lugar”, define Reinaldo Varela. “Mas acreditamos que a segunda metade dos doze dias de prova terá predominância das dunas. Então provavelmente teremos menos pneus furados. Até lá, temos que conviver com o problema”, completa o piloto da equipe Monster Energy/Can-Am.
Batendo nas pedras – Assim como boa parte dos concorrentes na categoria UTV, a equipe brasileira teve pneus furados nos quatro dias corrida – somente nesta quarta-feira, foram dois. A quebra da barra inferior da suspensão traseira na segunda-feira também foi causada pela batida em uma grande pedra. “Pelo menos até aqui, não tem jeito. O carro está o tempo todo batendo nas pedras, ou escalando subidas pedregosas. É como se fosse uma lixa, os pneus se acabam rapidinho”, conta Gustavo Gugelmin. “Mas este ainda é o quarto dos doze dias de prova. Muita coisa vai acontecer. Com ou sem pedras no caminho”, prevê o navegador da equipe Monster Energy/Can-Am.
Depois da incrível quebra da barra de direção no primeiro dia, que obrigou Varela a uma pilotagem épica usando uma chave de fenda como coluna de direção e uma chave de boca como volante, os brasileiros ocupam o 15º lugar na categoria UTV. A liderança está com os espanhóis José Hinojo Lopez/Diego Ortega Gil.
FONTE: Assessoria de Imprensa – FOTO: Marian Chytka