Hoje inauguramos no portal MotoMundo um espaço para contar um pouco das boas histórias que a vida no mundo das duas rodas me proporcionou ao longo desses anos viajando ao redor do mundo. Nesse espaço vou compartilhar historias verdadeiras, com personagens verdadeiros mas, com nomes ocultos, para preservar o sigilo dos personagens. É claro que, ao ler uma das historias, rapidamente os envolvidos vão se identificar !
Para inaugurar a coluna, vou aproveitar o recente encerramento do Rally Dakar, vencido pelo inglês Sam Sunderland, que conheci em 2011, no Australasian Safari Rally, que fui fotografar em Perth, na Austrália. Quando a competição veio para a América do Sul, desenhei um projeto de ir acompanhando de moto, a maior prova off-road do planeta. A organização não permitia a entrada de moto no evento, mesmo assim conseguir “convencer” o duros franceses a deixarem eu estar lá. Com o patrocínio e apoio incondicional da Honda, lá fui eu para duas edições da prova, uma pilotando a VFR 1200X em 2016 e em 2017, a então “relançada” Africa Twin. Foram duas viagens especiais com direitos a todos os perrengues que você possa imaginar que foram de problemas nas fronteiras até chegar a dificuldades para abastecer por ser estrangeiro.
E hoje quero destacar uma historia que passou na Bolívia, na cidade de Potosí. Lá estava eu, no dia de descanso da competição. Tudo estava bem lotado, com muita gente em todos os hotéis, mesmo assim consegui uma vaguinha para pernoitar. Ao chegar num posto, para abastecer, o frentista foi logo olhando as placas para ver de que pais eu era e, ao constatar que vinha do Brasil, se negou a vender combustível pelo fato deste ser subsidiado e muito mais barato do que pagamos aqui.
Entrei em pânico mas o tal boliviano não se incomodou e seguiu trabalhando e ignorando a minha existência, vi que não iria conseguir fazer nada e então fui para o hotel e comecei a pensar em alguma solução. Um garoto estava em frente ao hotel, pedindo gorjetas, ele tinha por volta de 17 anos e dizia que estava trabalhando mas não ganhava o suficiente. Propus a ele levar um galão de 5 litros até o posto e trazer até o hotel, ofereci uma quantia razoável, que hoje valeria uns R$ 100,00 pelo serviço. O garoto foi e trouxe o primeiro galão, colocamos na moto, no segundo, com mais cinco litros, ele chegou com uma cara meio assustada. Ainda me faltava 5 litros ele não estava muito corajoso e queria até devolver o dinheiro. Achei estranho, mas insisti que ele fosse, pois precisava daquele tanque para deixar a Bolívia com destino ao Chile onde terminaria o Rally. Eis que o garoto voltou e com ele, o frentista furioso, quase arrancando sua orelha e querendo saber quem o tinha “obrigado” fazer o tal “contrabando”.
Foi um bom tempo até convencer o gerente do posto que não se tratava de nada errado e sim um solução para sair do perrengue. Aos poucos ele (gerente) foi se acalmando e entendendo a minha situação, mesmo assim insistiu para ter a gasolina de volta, o que não fiz e, enquanto ele ia buscar uma viatura policial, eu juntei tudo e peguei a estrada com destino ao Chile. Foi um perrengue que tive de administrar mas que me trouxe importantes lições para quando você está viajando fora do seu pais de domicilio. Entenda as regras, saiba a legislação e lembre-se que você está fora de casa!
Saiba mais sobre Idário Café
Nascido em São Roque/SP, Idário Café é foto-jornalista desde 1994. Formado em Jornalismo pela USFSC atua no motociclismo a mais de três décadas e já viajou por mais de 30 países ao redor mundo. Motociclista apaixonado pelas viagens, fez uma das das maiores aventuras de moto indo de São Paulo até Anchourage, no Alaska. Também foi sub-editor da revista Dirt Action por uma década.
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