STEFAN EVERTS: “É diferente trabalhar com o meu próprio filho”




O dez vezes campeão mundial de motocross Stefan Everts é, sem dúvida, um nome que dispensa apresentações. O ex-piloto continua a ser dono de muitos dos recordes da modalidade e, por isso mesmo, coleciona um número de troféus de fazer inveja a qualquer um.

Depois de ter sido infetado com malária, Everts passou vários anos a recuperar da doença e das suas consequências. Depois das várias cirurgias a que foi submetido e da longa luta contra as dores, o belga dedica-se, em grande parte, à carreira do filho Liam que, inclusive, já venceu neste ano.

“Matterley é uma pista fantástica. É bastante técnica, tivemos condições lamacentas, condições secas, por isso, quer dizer, vimos muitas coisas fantásticas que o Liam pode fazer numa moto. É bom vê-lo finalmente conseguir mostrar o que vale sob pressão, porque a pressão que ele tem sobre os ombros é imensa. É possível que eu seja um dos únicos que consegue entender o que ele está passando, visto que a situação é semelhante à que eu tinha com o meu pai. Acho que ele está a melhorar e a ficar mais forte e, mesmo agora que está em isolamento, continua motivado. No entanto, está decepcionado por não haver corridas e não poder fazer outros bons resultados”, revelou Stefan Everts.

“Ele é que decidiu tornar-se piloto de motocross e agora tem de lidar com as consequências que isso traz. O que eu tento fazer é ajudá-lo a lidar com as coisas e a tomar as decisões certas. Uma das coisas que decidimos fazer foi arranjar um fisiologista esportivo, ainda no ano passado. Depois de algumas sessões, a comunicação entre mim e o Liam melhorou bastante. Nessas sessões falamos das suas frustrações, das minhas frustrações, e ele também sabe que eu sou uma pessoa que exerce uma grande pressão. Não quero ir longe demais, porque temos um esporto perigoso e não quero que ele fique com grandes lesões por causa disso. Sou cauteloso a esse respeito”.

Apesar de Liam Everts já ter mostrado o seu talento nesta temporada, logo na rodada de abertura, o sonho de um campeonato perfeito rapidamente se desvaneceu com o surgimento da pandemia. Stefan e a família estão na Bélgica em isolamento e estão ansiosos para poderem regressar à competição.

“É um pouco estranho e todos nós temos de nos adaptar a isto. No início é um pouco difícil com as crianças, o Liam não tem ido à escola. Ele fez a escola em casa na temporada passada e a Miley acabou de mudar para outra escola que adora e estava muito motivada. No início foi difícil para ela, mas agora está bem. Eu e a Kelly tentamos apenas mantermo-nos ocupados, fazendo muito trabalho em casa. Arranjar coisas e fazer coisas, por exemplo. Temos sorte de ter uma grande propriedade. Ainda não nos aborrecemos, talvez porque também sabemos que não há muito mais que possamos fazer agora”, disse Everts.

O belga já lidou com muitos pilotos no passado e ficou conhecido pelo seu temperamento complicado. Muitos não o quiseram ouvir, talvez não estivessem tão motivados ou determinados como o treinador e acabaram por não querer seguir as suas regras. No entanto, segundo o próprio, treinar o seu próprio filho é algo totalmente diferente.

“É completamente diferente trabalhar com o meu próprio filho do que com estranhos. Sei que, por vezes, não tive a melhor forma de lidar com alguns pilotos, mas só queria motivá-los para o seu próximo nível e torná-los campeões. Alguns não conseguiam lidar com isso e levaram a minha atitude de uma forma que os levou a esquecerem-se onde eu os estava a tentar levar. Com o Liam, eu sou o pai dele e ele precisa de me ouvir, ao contrário de todos os outros, só ouviam o que queriam. Claro que ele não é meu escravo, mas simplesmente funciona melhor. Ele olha para mim como seu pai, mas também como um campeão, um exemplo e confia no que eu lhe digo e no que nós fazemos”, sublinhou o ex-piloto.

Everts pode até ser, atualmente, o detentor do maior número de recordes no mundo do motocross. Porém, existe um outro nome de destaque que ainda está bastante ativo na modalidade.

“Tenho muito respeito pelo Antonio Cairoli. Tem uma personalidade muito diferente para mim, principalmente na forma como ele lida com as coisas. Para mim, ele sempre foi um embaixador fantástico para o motocross e para alguns pilotos que não querem passar tempo nenhum com a imprensa ou com os media e isso é triste. Penso que é muito importante. O nosso esporte é pequeno e, por isso, precisamos de o promover e tirar o máximo partido dele”, explicou Everts.

Quanto à temporada deste ano na categoria rainha, Stefan Everts realça o trabalho de mudança de mentalidade levado a cabo por Jeffrey Herlings, não deixando de parte a qualidade já demonstrada por Tim Gajser.

“O que o Jeffrey fez foi mudar a sua atitude e forma de pensar. De fato, ele começou a temporada muito bem mas, para mim, ele ainda não estava com a confiança que tinha no passado. O que Tim fez em Valkenswaard, para ganhar aquela primeira bateria, mostra como é forte até numa pista que não é o seu tipo. Isso foi impressionante. Vai ser um longo campeonato, quando voltarmos. Agora só temos de esperar para ver o que vai acontecer”, disse Stefan Everts.


FONTE: MOTOSPORT

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