Por que grandes marcas não estarão no Salão Duas Rodas 2019?




Crise no mercado de motos, retomada lenta na comercialização e altos custos para participar do evento são alguns dos motivos.

Na semana passada, após a divulgação de que o Salão Duas Rodas será realizado no Brasil até 2025, um “balde de água fria” atingiu em cheio a empresa Reed Exhibitions Alcantara Machado – organizadora do evento – e a ABRACICLO – Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares – entidade que controla o setor motociclístico, apoiadora e incentivadora do empreendimento.

O motivo da frustração foi o anúncio de que grandes marcas não participarão da edição 2019 do evento, que é o principal do setor na América Latina, e que este ano ocorre de 19 a 24 de novembro no São Paulo Expo (mesmo local que recebeu a última edição), na capital paulista. BMW, Ducati e a Harley-Davidson, todas fabricantes de peso no Brasil, já disseram que estão de fora esse ano. Mas, por que estes grandes nomes não vão participar do Salão este ano?

A BMW afirmou em nota que “se retirou do evento, com o objetivo de focar e fortalecer o engajamento em atividades específicas de experiência da marca, e que está constantemente examinando a sua presença em feiras e outros compromissos”. A marca Bávara encerrou 2018 como a quinta maior vendedora de motocicletas no país, com 7.158 unidades comercializadas, inclusive possuindo uma fábrica recém-inaugurada em Manaus.

Já a Harley-Davidson e a Ducati afirmaram que também vão investir em outros eventos, voltados diretamente para clientes. Além disso, o alto custo para participar do Salão Duas Rodas foi apontado como um dos fatores para a ausência por parte da Ducati. “Além de todos os problemas conceituais, o custo do evento no Brasil é muito elevado para o que temos em troca. E o resultado é muito diferente do que temos internacionalmente, como no Salão de Milão, onde o resultado é muito maior”, afirmou Diego Borghi, presidente-executivo da Ducati do Brasil.

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Ou seja, fala-se em retomada do crescimento no mercado de motos, porém ainda é muito cedo para que essa recuperação gere resultados efetivos e positivos para as empresas do setor. O segmento motociclístico ainda vive uma crise, apesar de o mercado no Brasil apresentar – depois de seis anos consecutivas de queda (de 2011 a 2017, quando as vendas caíram de 1,9 milhão para 846 mil unidades/ano) – uma recuperação em 2018, fechando o calendário com mais de 930 mil motos comercializadas.

Observamos nos últimos dois anos a dificuldade de marcas como Ducati e Indian Motorcycle (Grupo Polaris) em se estabelecer no país. A Ducati ainda conseguiu se manter ativa por aqui, pois conseguiu diversificar sua linha, introduzindo motos com preços mais acessíveis no mercado nacional e outras medidas. Porém, a Indian encerrou suas atividades no país, devido às baixas vendas causadas por esse desaquecimento, principalmente no mercado de motos premium, segmento onde a marca norte-americana atuava.

A previsão é que em 2019 sejam produzidas mais de 1 milhão de motocicletas no Brasil e o Salão Duas Rodas sempre teve papel de destaque na retomada do crescimento do setor. Mas, também é preciso analisar que as marcas que ficaram de fora do evento este ano não possuem a mesma “musculatura” de gigantes como Honda e Yamaha, por isso a Reed Exhibitions Alcantara Machado deve pensar em soluções mais “econômicas” e rentáveis para certos clientes, para em um próximo momento reconquistar o prestígio que o Salão Duas Rodas Merece.

Já a ABRACICLO têm de se alinhar o mais rápido possível com essa nova equipe de governo, pois temos de retomar a ascendente sinalizada entre 2009 e 2011, também um período pós-crise (naquela ocasião causada pela alta do dólar), que demonstrou o quanto o mercado de motos pode ser forte e influenciar positivamente na economia, claro se isso tiver o respaldo de medidas concretas e acertadas.

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O mercado está acenando com uma retomada no crescimento sim, mas voltamos a afirmar que ainda vai levar tempo para que resultados concretos atraiam novas marcas para o país, além de gerar novos investimentos das que aqui já estão. Por esses motivos, é hora de todos os envolvidos reverem seus conceitos e, principalmente, a mídia especializada passar ao público informações reais sobre como podemos fortalecer o mercado de motocicletas no Brasil. Já as montadoras podem começar trazendo modelos modernos e mais acessíveis, enquanto os parceiros comerciais precisam entender que não dá para se trabalhar com margens muito elevadas no momento e assim atrair novos negócios. No mesmo diapasão, a ABRACICLO deve trabalhar fortemente com o Governo Federal, no sentido de baixar impostos e, consequentemente, baixar o preço final para o consumidor, pois todos sentem no bolso a carga tributária escorchante que pagamos para adquirirmos um veículo nesse país. No mais, é aguardar um milagre, caso nada seja feito.


FONTE: MCB